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26 de abril de 2024
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Alta na carne afeta promoções em restaurantes de Teresina

O preço da carne bovina tem sido motivo de reclamação entre os empresários do ramo de restaurantes de Teresina. De um mês para o outro, o aumento foi de 30% junto aos fornecedores.

Mário Andrade, proprietário de um restaurante na zona Leste de Teresina, informou à Coluna Economia & Negócios, do Cidadeverde.com, que algumas promoções oferecidas aos clientes tendem a ser alteradas com o aumento.

“Eu costumo fazer promoções de carne de gado, mas agora essa promoção vai ter que ser em cima de outras coisas, carne suína, frango e outras carnes que não aumentaram o preço. A carne de boi está 30% mais cara neste mês que no mês anterior”, diz o empresário.

Renê Leal, gerente de um estabelecimento alimentício da zona Sul, disse à coluna que o cardápio precisou ser modificado na última semana. “Não tem como não repassar. A gente não está repassando todo o valor que aumentou, mas uma parte tem que repassar porque senão a gente fica no prejuízo e aí vai ter que demitir alguém para fechar a conta”, justifica.

Renê diz que o filé com fritas – que é um dos pratos mais pedidos em seu local de trabalho – passou de R$ 35 para R$ 42. “A gente aumentou só três pratos e entre 15% e 20%, mas a gente está comprando mais caro que isso”, diz.

Ele acrescenta que o movimento do restaurante não foi afetado, mas as promoções que fazia às quarta-feiras não serão mais as mesmas. “A gente fazia promoção na picanha. Agora, a gente vai fazer no frango desossado”, explica.

Eduardo Rufino, presidente da Associação de Bares e Restaurantes do Piauí (Abrasel-PI), disse apenas que a situação está “muito difícil, muito complicada”.

Arroba do boi

O valor da arroba do boi no Piauí subiu 92% nos últimos três meses, segundo informações da Associação Piauiense de Criadores de Zebu (APCZ). O preço subiu de R$ 120 a R$ 230 e deve impulsionar o crescimento do setor.

Foto: Roberta Aline / Cidadeverde.com

Artigo de luxo

O aumento repentino e crescente no preço da carne bovina se deve ao aumento das exportações, especialmente as chinesas.  Reportagem publicada neste sábado pela Agência FolhaPress lembra que em 2010, em um congresso de carnes em Buenos Aires, o então secretário de Agricultura e da Pecuária da Argentina, Lorenzo Basso, afirmou que a proteína se tornaria um “artigo de luxo”.

Diante de uma plateia incrédula com suas afirmações, Basso destacou que o aumento de renda em países emergentes, a elevação dos custos de produção e a substituição de espaços da pecuária por novas áreas de grãos elevariam em muito, o preço das carnes.

Ele não contava com novos fatores decisivos nessa escalada de preços: o perigo do avanço de doenças no setor. A previsão de Basso se confirma não tanto pela bovinocultura, mas pela suinocultura. A peste suína africana avança, e a situação ficou mais complicada quando atingiu em cheio a China, maior produtora e consumidora de carne suína no mundo.

Segundo dados divulgados na reportagem da Folha, em 2013, apenas cinco países registravam a peste suína. Eles representavam 3,5% da produção de carne de porco no mundo. Neste ano, 31 países foram à OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) comunicar que tiveram focos da doença. Esses países detêm 62% da produção mundial. Sendo a peste suína uma doença devastadora para a produção, quem necessita dessa proteína vai buscar o produto em regiões livres. Na falta dessa carne, os países buscam alternativas em outras proteínas.

É nesse contexto que entra o Brasil, um dos principias produtores e exportadores. Livre da peste suína, e grande fornecedor de carnes, o país passou a ser o centro de procura de proteína animal.

Apesar de não ser um grande fornecedor de carne de porco, o país tem um bom potencial no fornecimento de carnes bovina e de frango, que estão substituindo a suína. O apetite maior vem da China, que aumentou em muito as importações de proteínas. Em 2017, antes de a peste suína chegar a seu território, os chineses compraram 10% das carnes bovina, suína e de frango que foram comercializadas no mundo. Em 2020, devem adquirir 21% do volume total a ser transacionado mundialmente.

Bom para os produtores, que veem o preço atingir patamar recorde. Ruim para os consumidores, que pagarão caro pelo produto. A carne pode passar a ser um “artigo de luxo” também para os consumidores brasileiros, apesar de o país ser um dos principais produtores mundiais. E esse cenário não tem mudanças a curto prazo, apesar de estar ocorrendo em um período de entressafra da pecuária.

Foto: Roberta Aline / Cidadeverde.com

Ciclo demorado

O ciclo de produção das carnes bovina e suína não é rápido, como o do frango. Pelo menos por ora, as contas não fecham no Brasil. Comparando os dados de 2017, quando a China ainda tinha participação menor no mercado mundial de carnes -a peste suína chegou ao país asiático em agosto de 2018–, houve um aumento grande da margem entre produção interna e exportação brasileiras.

Dados do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) mostram que a produção brasileira de carne bovina de 2020 deverá superar em 13% a de 2017. Nesse mesmo período, no entanto, as exportações sobem 40%. O cenário é complicado também para a carne suína. A produção brasileira deverá subir 12% no período, e as exportações, 34%. Os dados para o frango indicam uma situação um pouco mais confortável. Os brasileiros elevam a produção de 2020 em 3%, em relação à de 2017, e exportam 5% a mais.

A pressão nos preços, já sentida nos últimos meses deste ano, deve continuar. Dados da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas) mostram que os preços médios da carne bovina subiram 17% na terceira semana deste mês, em relação aos de igual período de outubro. A alta da carne suína foi de 12%, e o preço do frango, que vinha em queda, supera em 9% o da terceira semana de outubro. Se as estimativas do Usda se concretizarem, o Brasil vai exportar 25% das carnes bovina e suína produzidas no próximo ano. Em 2017, foram 20%.

A peste suína africana continua avançando e não respeita fronteiras. Espalha-se pela África, pela Ásia e pela Europa. Neste último continente já atinge a Polônia e está a 50 quilômetros das fronteiras da Alemanha, um dos principias produtores europeus. Em 2013, a OIE registrou 1.701 casos de peste suína. Neste ano, já foram 424 mil. Os estragos da doença são grandes. A China produziu 55 milhões de toneladas de carne suína em 2017, volume que deverá recuar para 35 milhões em 2020. O país terá um rebanho menor porque antecipou abates de animais neste ano.

Com essa deficiência na produção, chineses devem comprar 25% da carne bovina a ser comercializada no mundo em 2020 e 34% da suína. A participação chinesa no comércio mundial de carne de frango também sobe, mas fica em 6%. O país está investindo muito na produção de aves, um setor cuja produção responde rapidamente. O Brasil está livre da peste suína africana, mas, devido ao avanço rápido da doença pelo mundo, associações dessa cadeia de produção buscam meios para se proteger. Essas precauções vão desde treinamentos de produtores à importação de cães farejadores, especializados em detectar carnes nos pontos de entrada de mercadorias no país. Parte importante dessa tarefa cabe ao governo, principalmente com a elevação de recursos para o desenvolvimento da defesa animal. Os países buscam desesperadamente uma vacina contra a doença. Enquanto ela não vem, todos correm perigo.

Do CidadeVerde

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