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29 de março de 2024
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Cerca de 100 são afastados do HU com suspeita de Covid, afirmam funcionários

Foto: Roberta Aline/ Cidadeverde.com

“A gente está aqui com medo de morrer”, esse é o desabafo da enfermeira Danyelle Vieira uma das profissionais de saúde que trabalha no Hospital Universitário em Teresina, onde mais de 100 trabalhadores foram afastados suspeitos de Covid-19 e uma ala inteira teria sido infectada após um paciente com o vírus dar entrada na unidade e só depois ser submetido à testagem.

Em uma manifestação, no dia do Enfermeiro, profissionais de saúde protestaram e denunciaram a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) suficientes, falta de ala exclusiva para casos suspeitos do vírus e o não pagamento de 40% de insalubridade aos profissionais que estão na linha de frente durante a pandemia.

Foto: Roberta Aline/ Cidadeverde.com

“No HU temos uma média de 100 profissionais afastados.Quem não trabalha com Covid não tem direito a EPIs de qualidade e em quantidade suficiente, mesmo existindo esse material no hospital. Estamos aqui com medo de morrer. Meu medo é morrer e deixar meu filho crescer na mão de outra pessoa. Como a gente vai trabalhar aqui cuidando de pessoas, se a gestão não cuida da gente como pessoas também? é terrível e desesperador porque nós também temos família. Você tem que cuidar da família dos outros e da sua. Está difícil”, disse emocionada a enfermeira que trabalha na UTI geral do HU.

Entre os profissionais afastados há médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, entre outros. Desses, 24 testaram positivo para a Covid-19.

12 HORAS COM DUAS MÁSCARAS

Representantes do Sindicato dos Servidores Federais do Piauí (Sinsep) e do Sindicato dos Enfermeiros, Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Estado do Piauí (Senatepi) apontam inúmeras falhas que impactam diretamente na segurança dos profissionais de saúde que estão na linha de frente contra o coronavírus. Entre essas, a falta de equipamentos de proteção individual  ( EPIs) suficientes para os profissionais que estariam tendo que passar 12 horas com apenas duas máscaras cirúrgicas, sendo que o ideal seriam quatro.

“Não estamos dizendo que faltou EPIs, mas são em quantidade insuficiente. A gente já soube que há quantitativo adequado, mas estão racionando de uma forma que tem prejudicado a assistência. Na unidade de Covid, o profissional é obrigado a ficar paramentado por 12 horas”, desabafa a enfermeira.

Outra denúncia grave é sobre o compartilhamento das máscaras de proteção (face shield) que, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), deveriam ser de uso individual.

“Essas máscaras de proteção estão sendo higienizadas no próprio setor. Na mesma sala em que é feita a desparamentação é guardada a máscara N95 ou PFF2 em uma caixa plástica com várias outras e ainda não temos definido por quanto tempo ela será reutilizada. A gente usa essa mesma máscara em 13 plantões no mês. É um forte meio de contaminação”, alerta a enfermeira.

Na unidade de Covid do HU há nove leitos de UTIs, atualmente, todos ocupados. Além disso há 21 leitos clínicos exclusivos para casos da doença. Por plantão, quatro enfermeiras se revezam nos cuidados com os pacientes.

“É pouco profissional. Não é humano, profissional passar 12 horas paramentado. O ideal seriam 6 horas”, reitera Danyelle Vieira.

FALTA DE TESTAGEM DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

No HU há a denúncia  também de que profissionais de saúde que tiveram contato com pacientes Covid não estariam sendo testados.

“Na unidade de Covid, os profissionais trabalham em rodízio, ou seja, saem de lá e vão para outros setores como postos e UTI geral e eles não estão sendo testados antes de saírem, nem tão pouco,  os profissionais que tiveram contato com quem já foi infectado e isso já aconteceu comigo”, relatou  Danyelle Vieira.

FALTA DE ALA EXCLUSIVA PARA CASOS SUSPEITOS DE COVID-19

Francisco Santana, representante do Sindicato dos Servidores Federais do Piauí (Sinsep), denúncia outro problema grave: casos suspeitos de Covid estariam sendo admitidos em setores do HU não exclusivos para a doença. Ele exemplica o caso de um paciente suspeito de Covid na mesma área de um paciente que precisa de uma cirurgia cardíaca, uma vez que o HU é referência para atendimento de alta complexidade.

Foto: Roberta Aline/ Cidadeverde.com

“Assim, o profissional de saúde acaba sendo um vetor, pois pega o vírus de um paciente que já está infectado e foi pra um posto que não é exclusivo. Daí quando o paciente é testado e dá positivo, já foi. O profissional já foi exposto. Teria que ter uma ala só para casos suspeitos. Isso já aconteceu em uma enfermaria. Um paciente contaminou toda a enfermaria porque ele era suspeito e quando veio o teste deu positivo. Com isso, três pacientes que estavam com ele e a profissional de saúde foram infectados. Precisamos salvar a nossa vida para salvar a dos outros”, disse o representante Sinsep.

Além dessas questões há ainda a falta do justo reconhecimento financeiro garantido por lei. De acordo com a categoria não estão sendo pagos os 40% de insalubridade.

“Estamos tendo contato direto e permanente com pacientes suspeitos de Covid e até positivados e no Piauí não está sendo pago no Piauí. Só nos dizem que precisam de deliberação do superintendente e é uma análise sem fim”, denuncia a categoria.

MINISTÉRIO PÚBLICO FOI ACIONADO

Diantes das denúncias, Francisco Santana disse que  a categoria tentou diálogo com a gestão no Piauí, acionou Brasília, responsável pela gestão dos hospitais univesrsitários no país, e agora recorreu ao Ministério Público.

Esclarecimento da Ebserh

A direção da HU informou que o pagamento de adicional de insalubridade está sendo feito em conformidade com as legislações vigentes. A empresa informou ainda que adota as medidas necessárias à segurança de pacientes e profissionais, com fornecimento adequado e regular de todos os equipamentos de proteção individual (EPIs), de acordo com as categorias e atividades profissionais, em conformidade com os normativos e protocolos sobre dispensação de EPIs.

A direção garante que possui setor de triagem para todos os pacientes regulados para internação. Mas que os casos suspeitos ou já confirmados de Covid-19, ao serem encaminhados para o HU-UFPI, têm acesso por entrada própria e definida para tal fim. São, então, encaminhados diretamente para internação, em área exclusiva para assistência destes pacientes – Ala COVID.

Que, no caso de pacientes regulados para os leitos não COVID, ou seja, para tratamento de outras patologias e sem suspeita de Covid-19, é feita uma triagem rigorosa, com procedimentos e exames, incluindo o teste rápido para detecção de coronavírus. Após avaliação desses parâmetros, a qualquer indício de infecção por Covid-19, o paciente é encaminhado à Ala Covid para internação.

Que está realizando, de forma periódica, a testagem referente à Covid-19 para os colaboradores desde o dia 30 de abril. Além disso,  todo paciente regulado para o Hospital, para qualquer posto de internação, também realiza o teste rápido na admissão, independente da presença de sintomas.

O HU-UFPI reafirma seu compromisso de continuar atuando em prol da saúde pública e contribuir com as ações relativas ao enfrentamento da pandemia por Covid-19 no Piauí.

Fonte: Graciane Sousa / CidadeVerde

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