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24 de abril de 2024
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Baú

Comida do mercado: uma tentação em todos os sentidos

Panela de carne de porco na barraca da Francisca. foto: Maria Nilza

 

 

A gente possui cinco sentidos básicos que nos ajudam a compreender a vida e, principalmente a perceber as sensações. São eles visão, audição, tato, paladar e olfato. Todos possuem sua função essencial, hoje vamos dar um pouquinho de atenção a estas funções especiais do nosso organismo. E para ter a certeza de que elas estão em pleno funcionamento, resolvemos dar uma voltinha pelo mercado municipal de Picos a partir das Seis horas da manhã.

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Panelas grandes com aparência e cheiro agradável em cada canto do mercado atrai os passantes pelo olfato e estômago. foto: Maria Nilza

Ao colocar os pés nas dependências do mercado, de imediato temos aguçados todos eles. O chiar da válvula de escape da panela de pressão, o cheiro de… galinha, panelada, mão de vaca, porco, carneiro. Ops, vamos parar porque já me deu água na boca. Depois do cheiro que nos hipnotiza e nos leva direto às panelas, ficamos maravilhados com a beleza dos pratos, panelas e panelões fumengando, cheirando. E tato logo é acionado pelo calorzinho que sobe no vapor dos caldos de feijão, carnes e legumes (calorzinho aqui em Picos, mesmo às seis da manhã é eufemismo puro).

Depois de sentir tudo, de todas as maneiras – viva Álvaro de campos – vamos falar dos profissionais, ou melhor, dos sacerdotes dos manjares. E uma sacerdotisa das mais antigas do mercado é dona Francisca. Ela iniciou seu ofício desde, quase menina, em 1969, hoje, depois de quarenta e seis anos no mercado, continua incansável em seu labor. Ela começou junto com um irmão mais velho, depois de muito tempo ele largou a feira e ela permanece até agora, para a alegria da clientela.
Suas mãos pequenas e calejadas testemunharam muitas histórias de feirantes. Quando jovem solteira passava a noite praticamente toda trabalhando e não tinha hora para servir comida. Os feirantes chegavam famintos e ela os socorriam com seu fogão à carvão e suas apetitosas iguarias, “ já tive vez que servi galinha quase crua, Deus me livre, mas não tinha outra escolha, o povo chegava agoniado, dona Francisca tô morrendo de fome, manda do jeito que tá”, confessa a cozinheira, meio sem jeito.
Ela conta que continua morando na roça e tem também seus trabalhos na zona rural. O seu marido, depois que saiu do emprego, foi convidado por ela a trabalhar na feira, e colocou uma banquinha de cigarro ao lado da esposa. São trinta anos de casados e atualmente parceiros também nos negócios.

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Francisca exibe com orgulho as panelas cheias. Foto: Maria Nilza

Com visível orgulho ela levanta as tampas das panelas e exibem o que melhor sabe fazer, enquanto mexe o feijão fresquinho que acaba de cozinhar.  “ Eu tenho o maior orgulho do que faço, pois é o que sei fazer e ainda alimenta” conclui com um sorriso tímido, dona Francisca, uma mulher de pequena estatura, poucas palavras, grande simpatia e DOM.

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A galinha caipira, que não pode faltar, já não resta quase nada na panela. Foto: Maria Nilza

E não podemos negar é muito bonito de ver uma panela enorme com carne de porco, fumegando, cheirando, cozidinha e apurada, dourada e com um molho espesso. E nem se fala da galinha, molho no fundo da panela, com bastante temperos, coentro, cebolinha, pimenta de cheiro, coxas e sobrecoxas, peitos, tudo com uma aparência que os deuses do Olimpo desceriam à terra para provar.
Mas a visita não se restringiu apenas a barraca da dona Francisca, ainda outras, como a do seu Francisco, Edileuza e Edilane, os três já estão no local a mais de dez anos, Edileuza foi a primeira a chegar, há doze anos, depois veio Edilane e o Francisco que trabalha há cinco anos. Segundo um cliente assíduo, que bate ponto todos os dias, mas não quis aparecer nas fotos – é a melhor panelada e mão de vaca da cidade. Ele disse que o prato preferido é o que estiver mais quente, porém Edileuza, que já o conhece bem, o contesta. “Mas tem as preferencias, que é porco, galinha, bife e mão de vaca” interpela a cozinheira com segurança.

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O colorido das barracas. Foto: Maria Nilza

Se fôssemos visitar todas as barracas passaríamos o resto do dia no mercado público e com certeza adquiria todas as calorias que dispensamos. Por resignação consegui deixar um dos sentidos sem uso, pelo menos na prática. Apesar de suas insistências, eu resisti e não provei nada, pelo menos neste dia. O meu paladar me odiou, pois o pobrezinho foi torturado ao máximo, com tantas delícias expostas.

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Cliente com cara de satisfação depois de ter provado seu prato predileto na cozinha de Maria( ao fundo) . Foto:Maria Nilza

O que descobrimos, eu e meus sentidos, é que a comida no mercado é abundante e a cliente satisfeita e também não tem hora tradicional para se alimentar e comer bem. Toda barraca, às seis da manhã já está com o fogão ativo e as panelas cheias, cheirosas e gostosas. Apesar de ter o café tradicional, com cuscuz, beijú, bolo frito e outros comuns ao desjejum, a maioria das pessoas preferem algo mais reforçado e gostoso: comida de panela.
Agora preciso parar por aqui e ir atrás de algum engano para meu amigo paladar. Se escrevesse à máquina, o papel estaria molhado de tanto que me deu água na boca.

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O brilho da simpatia das cozinheiras concorre com o brilho do alumínio. Foto: Maria Nilza

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