A comunidade quilombola Custaneira Tronco, localizada no município de Paquetá do Piauí, é um exemplo de resistência. Formado por 45 famílias, o quilombo carrega consigo uma história de fé e luta de escravos que se refugiaram no município e ajudaram a criar a comunidade.
“Hoje, a comunidade quilombola se mantém viva diariamente com essa força da ancestralidade para educar e fazer crescer cada vez mais esses valores que, para nós, são o maior presente e maior tesouro deixado pelos nossos ancestrais”, disse Pai Naldo, mestre do quilombo.
A roda de leseira, o samba de cumbuca, de São Gonçalo, de São Benedito e o reisado fazem parte da cultura da comunidade. Além disso, segundo Pai Naldo, a base de toda a ancestralidade do povo é o terreiro de religião de matriz africana, a Casa de Guerreiro Caboclo de Oxóssi.
“A gente está sempre na luta e lutar é um objetivo de cada um de nós. Lutar todo dia, lutar sempre. Desistir nunca. Então, é para fazermos e mostrar a nossa leseira para todo o Estado do Piauí”, comentou o mestre.
História
Comunidade é formada por, aproximadamente, 140 pessoas — Foto: Reprodução /TV Clube
A comunidade Custaneira Tronco se formou após a chegada de negros que foram postos em liberdade. Na época, o local ainda não havia sido ocupado e possuía bastante água, o que garantiu a sobrevivência deles.
“A comunidade se formou quando os primeiros negros saíram das senzalas, das casas grandes e não tinham espaço para trabalhar e ter o seu sustento. Dizem que os negros foram libertados, mas deram uma libertação em que o negro não tinha como sobreviver. Então, o negro se sujeitava a trabalhar para os mesmos patrões para sobreviver. Eles vieram para essas terras que eram desocupadas e que tinha muita água, e começaram a fazer agrupamentos. A partir disso surgiu essas famílias que aqui estão hoje”, lembrou Pai Naldo.
Além dela, outras comunidades se formaram na região, como é o caso do quilombo Lagoa Grande, em Santa Cruz do Piauí.
“No nosso quilombo desenvolvemos a dança de São Benedito, de São Gonçalo, as leseiras e outras coisas. Temos 46 famílias, um grupo de jovens, formado por cerca de 15 pessoas, e os outros são mais velhos de idade”, relatou o líder Abdias Ferreira.
Preconceito
Quilombo resiste ao preconceito e a discriminação — Foto: Reprodução /TV Clube
Os quilombos ainda sofrem com discriminação. Para Pai Naldo, as tradições de sua comunidade servem não somente para manter a cultura viva, mas para promover a igualdade.
“Muitos negros foram excluídos de salas de dança, porque os negros não podiam estar nas mesmas salas com os brancos. A leseira mostra a igualdade na dança, então, não separa cor de pele, mas une porque somos todos humanos”, pontuou o mestre.
“O quilombo é a minha identidade. Toda a minha família é descendente quilombola. Aqui eu me sinto tranquilo, em casa, em família, não só pela comunidade, mas também me encontrei, de verdade, na espiritualidade”, desabafou o professor Francisco de Assis, morador da Custaneira Tronco.
Fonte: G1-PI