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25 de abril de 2024
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Costureira perde trabalho e se dedica a fazer máscaras para comunidade no Piauí

Costureira perde trabalho e se dedica a fazer máscaras para comunidade - Foto: Glenda Uchôa/O Dia

Na zona Norte de Teresina, no final de uma rua sem nome no bairro São Joaquim, periferia da cidade, a máquina de costura de Daiana Soares quebra o silêncio da via quase deserta pela quarentena imposta ao enfrentamento do coronavírus. Em uma pequena sala transformada em atelier, a costureira, de 29 anos, se debruça sobre peças que, em 12 anos de trabalho dedicado à produção de roupas, nunca pensou criar: máscaras de tecido para distribuir aos moradores do bairro e roupas de proteção para equipes médicas que atuam no enfrentamento ao Covid-19 em um hospital da Capital. Mesmo tendo perdido o emprego por conta da quarentena, o trabalho é feito de forma voluntária, sem ganhar nada, a não ser o entendimento que está fazendo o que pode para também enfrentar o cenário: cuidar das pessoas com suas linhas e tecidos.

A ideia de fazer as máscaras veio como reação imediata a uma notícia de que o item estava sendo vendido, unitariamente, a R$ 5 na comunidade. Em um local habitado predominantemente por famílias de baixa renda, investir cinco reais para cada ente da família ter mais proteção significaria aceitar padecer sob outra realidade: a da falta de dinheiro para ter comida em casa. Na Capital, o índice de pessoas em situação de pobreza, em 2018, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), mostrava que 29,3% da população vivia abaixo da linha da pobreza, porcentagem que representa 252 mil pessoas.

“Meus familiares e muitos conhecidos moram ali na Vila do Avião e me disseram que uma máscara de tecido era cinco reais, mas eu sei que ali ninguém tem condição. Então, eu vi que tinha muito tecido aqui em casa que dava para reaproveitar. Comecei a fazer as máscaras e mandar pra lá”, explica.

A boa notícia, fruto da generosidade inata de Daiana, se espalhou. As primeiras dez máscaras viraram 20, depois 50 e, quando percebeu, a costureira já tinha feito quase uma centena dos itens a pedido da comunidade.

Também foi por conta dessa iniciativa que uma colega enfermeira procurou Daiana e aumentou o arco dos pedidos ao propor que ela fizesse roupas de proteção para as equipes de saúde do Hospital da Primavera, também na zona Norte da cidade e que faz parte da linha de frente no combate à doença. “Ela [a colega enfermeira] manda os materiais e eu faço. Agora estou fazendo macacão para os médicos e enfermeiros usarem. Boto tudo dentro do saquinho porque tem que ser higienizado e mando pra lá, já fiz 20”, conta orgulhosa.

Para manter o ritmo de produção, Daiana fica quase o dia todo envolvida com a costura. Só para quando tem de lidar com as demandas do cuidado com as filhas, uma de dez e a outra de sete anos, e dos afazeres domésticos.


As primeiras dez máscaras viraram 20, depois 50 e, quando percebeu, a costureira já tinha feito quase uma centena dos itens a pedido da comunidade.


Mas apesar da ocupação, o cenário que vivencia em casa por conta da pandemia também preocupa. “Eu sinto prazer em ser costureira. Tem problema e a gente relaxa aqui [aponta pra máquina]. Mas, agora, as coisas ficaram mais difíceis. Essa colega tem mandado cestas básicas pra gente, e meu marido feito pequenos bicos, que é de onde, agora, a gente consegue dinheiro pra pagar as contas”, detalha.

Afastada do emprego desde a segunda quinzena de março, ela não pode mais contar com a renda que tirava do trabalho de produção de peças de roupa de pronta entrega e, também, dos extras que fazia por fora no pequeno atelier criado em sua casa.

Comunidade se envolve

Esse cenário de dificuldades para conseguir ter alguma renda, agora que as opções de busca por emprego são mínimas, também é relatado pela vizinhança.

Cristiana Pereira destaca que, sem perspectiva de emprego, o medo para continuar mantendo as necessidades básicas aumenta. Uma opção encontrada por ela é trabalhar vendendo porções de guloseimas, como mingau de milho ou creme de galinha, na comunidade.

A jovem, assim como outros vizinhos, também reforça a ajuda prestada por Daiana e organizam o embalo das vestimentas para os profissionais de saúde, bem como a doação das máscaras. “Tem que ajudar pra ver se esse vírus fica bem longe da gente”, decreta.


Daiana mostra macacão que está sendo enviado para o Hospital da Primavera – Foto: Glenda Uchôa/O Dia

Ministério amplia indicação e recomenda até a produção de máscara caseira

A máscara foi um dos primeiros itens a entrar no radar de quem quer evitar o coronavírus. Segundo orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), devem utilizar a máscara profissionais de saúde, cuidadores de idosos, mães em fase de amamentação e pessoas diagnosticadas com a doença. Mas, no Brasil, o avanço da epidemia já leva o governo a recomendar o uso de máscaras feitas em casa, como as de pano.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse na quarta-feira (1º) que máscaras de proteção podem servir como barreira eficiente para a população em geral contra o coronavírus. A sugestão de Mandetta tem como foco o uso de máscaras alternativas, preservando as cirúrgicas e as N95 para os profissionais de saúde.

As máscaras caseiras impedem a entrada e saída de gotículas desde que sejam feitas com um tecido filtrante, como o TNT, e em três camadas: externa, intermediária filtrante e interna.

Edição: Virgiane Passos
Por: Glenda Uchôa, do Jornal O Dia

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