Mais que a vida, a estudante Janaína da Silva Bezerra teve interrompidos uma série de sonhos que hoje seus pais tentam realizar para manter viva a memória da jovem de 21 anos encontrada morta com sinais de violência sexual após uma calourada no campus da Ufpi (Universidade Federal do Piauí) no último sábado (28).
Ainda abalado e revoltado com o assassinato da filha, o mecânico Adão Bezerra do Nascimento mostrou, nesta terça-feira (31), o quarto que estava construindo para a filha. A obra visava oferecer um local mais apropriado aos estudos da universitária, que estava no sexto período do curso de Jornalismo da Ufpi.
“Até agora não deu para concluir. Ela veio, olhou para o quarto e disse que estava ficando bonito. Eu disse que íamos fazer com calma, vai demorar mas vou lhe dar o quarto prontinho, do jeito que você quer, sua cama, o lugar de colocar seu notebook para estudar e um ventilador para você passar a noite toda estudando”, contou o pai.
A obra, porém, precisou ser interrompida com a pandemia e a redução da renda familiar. Mesmo sem muitos recursos, Adão Bezerra garante que concluirá o quarto para a filha. “Falta colocar a janela e a porta ainda. Falta pouco, mas vou concluir. Mesmo sem a presença dela, vou realizar o sonho que ela estava querendo realizar”, afirmou.
Os últimos momentos com a filha
Mãe de Janaína Bezerra e também muito abalada por perder a filha de uma forma tão trágica, Maria do Socorro Nunes lembra que a estudante estava muito feliz quando as duas se viram pela última vez na sexta-feira (27). Apesar das orientações dadas à jovem, a dona de casa disse que estava com um mau pressentimento.
“O rosto brilhava, parecia uma estrela. Mas eu já estava sentindo, como mãe eu estava sentindo […] todo o tempo a gente estava ligando, tanto eu como o pai dela, e nesse dia nós ligamos e minha filha não respondeu mais. Minha filha estava tão feliz. A mãe se sente feliz quando o filho está feliz. Tem hora que vem aqui, no meu coração”, desabafou a senhora.
Familiares, amigos, alunos e professores da Ufpi realizaram uma caminhada e vigília no campus da instituição em memória de Janaína Bezerra e para cobrar Justiça aos responsáveis pela morte da jovem. O caso está sendo investigado pelo Núcleo de Feminicídio do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
O estudante de mestrado Thiago Mayson da Silva Barbosa, de 28 anos, segue preso preventivamente como suspeito de estuprar e matar a estudante de jornalismo. A polícia segue apurando o caso e investigando outros elementos, como a possibilidade da participação de outras pessoas na morte de Janaína Bezerra.
“Não deixe esse vagabundo impune, não solte ele. Ainda tem outro marginal, vamos saber quem é ele. Diz que o pai já tirou, mas vá atrás. Tenho certeza que o delegado Baretta vai conseguir. Estou junto com ele, estou lutando para que ele faça isso por mim. Sou um cara humilde e preciso de ajuda, não é com dinheiro, preciso de ajuda para me fortalecer”, clamou o pai da estudante.
Além de punição aos responsáveis pela morte da filha, Socorro Nunes pediu que a direção da Ufpi aumente a segurança no campus. “É muito grande e tem muita gente. É escuto, bote iluminação e câmera. Registre todo mundo, não deixe arma lá dentro. As unhas da minha filha foram arrancadas, minha filha foi toda quebrada, ela lutou muito. Minha filha estava muito machucada. Cada machucado no rosto dela era uma dor em mim”, concluiu.
Fonte: Breno Moreno / CidadeVerde
