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19 de abril de 2024
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Moradores da comunidade Saquinho mantêm a tradição de tratar o couro

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O homem se utiliza da pele dos animais desde o início do mundo. Servia para abrigar do frio, do sol e várias utilidades. Com o passar do tempo foram surgindo outros materiais, entretanto o couro continua sendo utilizado na fabricação de roupas, calçados, acessórios, móveis e etc.
Entretanto para que a pele fique no ponto básico de utilidade, é necessário passar por um processo popularmente chamado de curtição. Atualmente existem meios mais modernos para o beneficiamento do couro, mas alguns profissionais ainda se utilizam da maneira artesanal, como é o caso dos curtidores do povoado Saquinho a seis quilômetros do centro de Picos.

Local onde o couro fica de molho na casa de angico e depois estendido para secagem. Foto: Maria Nilza
Local onde o couro fica de molho na casa de angico e depois estendido para secagem. Foto: Maria Nilza

No povoado tem pelo menos sete curtumes ( local de beneficiamento do couro), todos eles gerenciados por familiares. O curtume do senhor Mariano é cuidado por ele por um irmão, a mulher e os filhos. Mariano conta que já está na terceira geração que trabalha com curtumes, mas hoje poucos querem a função por ser um trabalho desconfortável. Ele como não sabe fazer outra coisa continua com a profissão, apesar de não dá tanto lucro.
Dona Antônia, esposo de Mariano, que também é professora da rede municipal, nos mostra todo o procedimento feito com o material. A produção da sola, inicia por deixar a pele “espichada”, com veretas, ao sol até que esteja completamente seca. Depois coloca de molho na cal e soda cáustica por oito dias, em seguida faz uma limpeza em que raspa todas as sobras de carnes e pelancas e os pelos do animal. Depois de limpa vai para um molho em uma mistura de cascas trituradas de angico por 40 dias.
Os familiares do casal foram curtidores a tradição já vem de longe. “Meu pai criou os filhos curtindo couro. Antes com uma quantidade de quilos, que eu já me esqueci, ele comprava todo material escolar dos meninos e agora com essa mesma quantidade não dá pra comprar um bujão de gás”, explica Antônia. Ela acredita que, apesar do couro ter uma grande utilidade e os artefatos produzidos com ele ser caros, a concorrência com as grandes empresas de beneficiamento não compensa.
Apesar de o trabalho ser bastante árduo, o baixo preço na venda do produto, os artesãos ainda encontram outras dificuldades. Atualmente já não está fácil encontrar cascas de angico pela região, pois os trabalhadores do passado não tinha instrução e acabaram fazendo uma extração de maneira não sustentável, por isso muitas árvores morreram devido a retirada completa da casca.
Para encontrar o material vegetal eles precisam ir bem distante, muitas vezes até o município de Bocaina. “Hoje tá melhor, porque a gente vai de carro e pode voltar no fim da tarde. A gente sai de madrugada e volta à noite. Antes a gente passava a semana no mato, cozinhando, bebendo água de cabaça e iam em jumento e cavalo. Agora a gente leva a comida pronta, água congelada que dá pra dia todo e vamos de carro” conta Mariano.

Cascas de árvores secas e trituradas para o molho final. Foto: Maria Nilza
Cascas de árvores secas e trituradas para o molho final. Foto: Maria Nilza

Ao chegar no local de trabalho percebe-se logo o exalar de um cheiro forte de casca das cascas e durante período chuvoso é pior, pois a pele demora em desidratar e assim os odores ficam insuportáveis para quem não está acostumado. O contato com a pele na segunda etapa é mais perigoso, pois tem-se o contato com cal e soda, além das ferramentas de corte. Porém a segunda, etapa já melhora, pois o molho vegetal utilizado tem propriedades cicatrizantes e se adquirir algum ferimento na anterior, nesta tem a profilaxia natural.
As casinhas, onde se faz o último molho e secagem da pele curtida, desperta curiosidade por ter no máximo dois metros de altura no cume e aproximadamente um metro de meio nas laterais. O que foi devidamente explicado por Alisson, filho do casal. “as casinha tem que ser baixas para não receber a luz do sol. Por isso a gente coloca lonas do lado pra o sol não entrar de jeito nenhum, se não o couro fica escuro demais”, esclarece Alisson.

Produ
Produto final que é utilizado para fabricação de artefatos utilizado pelos agricultores da região. Foto: Maria Nilza

Os produtores do Saquinho vende seu produto para os artesãos da região, aqueles que trabalham fabricando artefatos de cavalarias, como selas, cangalhas, chicotes, chapéus e outros usados pelo homem do campo.
Apesar de toda a dificuldade encontrada, principalmente o baixo lucro, os curtidores ainda resistem em sua forma primitiva de beneficiamento, alguns por não saberem fazer outra coisa, outros porque gostam e querem seguir em frente com a tradição herdada dos avós e tataravós, e não deixar faltar os arreios de couro cru.

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