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24 de abril de 2024
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Não deixaram Dilma Roussef se aproximar dos mais pobres durante visita em Paulistana

Dois públicos distintos foram ver a inédita, e mais que esperada, visita da presidente Dilma Roussef na sexta-feira (11 de setembro). Ela esteve na região de Paulistana, Sertão do Piauí. Eram o grupo dos que amam a mandatária e também o grupo que não a ama, mas estava lá para trabalhar ou para fazer média política ou midiática.

Dos que amam a presidente havia dois subgrupos: os que tiveram a oportunidade de vê-la quase cara a cara e os que foram para a distante Serra Vermelha (a 62 quilômetros de Paulistana, quase no meio do nada) e terminaram barrados.

Desse grupo fazia parte uma série de agricultoras e agricultores que, entre querer ver a primeira mulher a governar o Brasil, queriam apenas pedir para serem os próximos beneficiados, entre tantos, pelos programas sociais do Governo Federal, reconhecidamente transformadores de uma parte dessa região do país.

O pecado do segundo grupo? Levar cartazes e cobrar, educadamente, o que a presidente e seus antecessores tanto têm prometido: igualdade e resolução de problemas para quem mais precisa.

Faziam parte desse grupo de “barrados na visita” pessoas de várias cidades da região de Paulistana. Em comum o fato de não terem energia elétrica em suas casas ou então de quem teve terras e casas prejudicadas pela Transnordestina e recebeu indenizações que não paga nem o protetor solar que precisaram usar.

Muitos moram bem perto de onde vai passar a Transnordestina. Outros moram mais perto ainda das várias linhas de transmissão que levará energia eólica para o estado. Mas nada de levar para suas casas. Muitos deles acordaram de madrugada e se deslocaram mais de cem quilômetros para chegar a Serra Vermelha e estar perto de Dilma. Deram com os burros n´água. O forte esquema de segurança os colocou em isolamento e a presidente passou foi longe desse povo.

Ficaram a mais de 300 metros e não viram nem o rastro da tão amada chefe do executivo nacional.

Manifestantes, que fizeram protesto pacífico, ficaram bem longe de todas as solenidades no Sertão do Piauí

Essa foi uma interface do Sertão que Dilma esteve mas não conheceu. Não a deixaram estar no meio do povo.

Ao mesmo tempo, a presidente foi simpática e carinhosa com dezenas de privilegiados, alguns deles da classe de trabalhadores que tocam a Transnordestina. Para estar ao lado de Dilma passaram por um sorteio. Tirar selfie era a meta principal da maioria. E a presidente praticamente atendeu todo mundo. Distribuiu sorrisos para quem pôde estar perto dela. Não se deixou abalar com o incômodo calor que passava facilmente de 40ºC.

Momento em que os sertanejos foram barrados. Não xingaram, não querem impeachment. Amam Dilma

Um dos que mais lamentou a exclusão da possibilidade de ver e poder cobrar Dilma Roussef na zona rural de Paulistana foi o agente comunitário de saúde Osvaldo Mamédio da Costa. Há quase dez anos ele é um dos mais incansáveis lutadores na região da divisa Piauí – Pernambuco – Bahia pela instalação de energia elétrica nas residências da zona rural daquele rincão do país.

Osvaldo já organizou romarias, já provocou audiências públicas, já apelou para Deus e para os homens e continua às escuras, mas não está calado. Só faltou Dilma, mas Dilma não os viu.

O agente comunitário de saúde foi um dos que ficou indignado pelo fato de muitos do que estavam perto da presidente sequer votaram nela, que estavam mais lá para posar bonito nas fotos (foram milhares) e nas transmissões ao vivo.

Lamparinas. Esperança de Dilma ver e atuar imediatamente na aposentadoria delas

Dilma foi agraciada com o título de cidadã de Paulistana. A petista recebeu a honraria das mãos do proponente, vereador Betinho, nada mais nada menos, filiado ao PSDB. Viva a democracia!

“Diziam nas eleições do ano passado que o povo não sabia votar, que o povo votaria errado em Dilma. Mas nós votamos nela e acreditamos que ela irá resolver os problemas. Pena que a gente não foi ouvido”, reclamou Osvaldo Mamédio, enquanto publiciza em suas redes sociais as várias fotos das manifestações. Os atos de pedido à presidente, que não foram vistos por ela, tinham cartazes, faixas e muita lamparina, o grande símbolo do Sertão às escuras, o mesmo que não deixaram Dilma ver.

Os pobres, os que votaram em massa e os que ainda acreditam muito em Dilma continuam barrados.

Será que é um sinal de que os assessores da presidente precisam dar mais chance dela ouvir os protestos verdadeiros das ruas? No caso, em Serra Vermelha, os protestos foram feitos não por pessoas que querem derruba-la, não por ninguém que a xinga, e muito menos por pessoas que querem que ela se exploda (como foi plenamente divulgado através de mensagens intolerantes durante a visita da presidente ao Piauí). Esse povo queria apenas falar com ela e ser visto para poder ver a presidente ao menos ao vivo na TV, já que a maioria dessas famílias têm TV (o Bolsa Família proporciona eles terem esse aparelho, dentre outros) mas sem energia elétrica as televisões ficam só de enfeites.

E ficaram no meio do Sol. Mesmo sem serem vistos pela presidente prometem continuar a luta até terem energia elétrica

“É para isso que a gente estava aqui para ser visto. A gente espera que nossa luta seja olhada”, refletiu Osvaldo Mamédio, que lembra que na campanha presidencial do ano passado várias lideranças da região foram convocadas para falar com a presidente. “Mas a campanha passou…aí já viu…”. Pois é, nem Dilma os viu…Não deixaram!

 

 

 

Fonte: Orlando Berti / O Olho

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