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26 de abril de 2024
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Oftalmologistas estão mal distribuídos no Brasil e telemedicina pode ser solução para mudar cenário

Olhos / Foto: Arquivo Cidadeverde.com

Há muitos oftalmologistas no Brasil. Eles, porém, não conseguem chegar de forma suficiente a regiões remotas do país e, com isso, o atendimento básico de saúde ocular do SUS (Sistema Único de Saúde) é insatisfatório. A boa notícia é que avanços tecnológicos vêm mudando o cenário.

O jornal Folha de S.Paulo organizou no dia 14 um seminário sobre saúde nos olhos e discutiu os acessos e desafios do setor no Brasil. O evento foi patrocinado pela biofarmacêutica Allergan, uma empresa AbbVie.

Participaram do debate Jacob Cohen, oftalmologista e professor da Universidade Federal do Amazonas; Ralf Toenjes, fundador da ONG Renovatio, que promove ações de saúde visual e doação de óculos; Mirko Babic, especialista em glaucoma pela USP; e Cristiano Caixeta Umbelino, presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).

Umbelino defende a inserção da oftalmologia na atenção básica de saúde para encurtar a fila de atendimento do SUS. “A presença do oftalmologista facilitaria a referência do paciente e a adequada coordenação dentro do sistema de saúde para que a pessoa chegue ao profissional qualificado no tempo certo”, afirma.

De acordo com levantamento do Datafolha de outubro de 2021, 42% dos brasileiros têm o hábito de consultar-se com um oftalmologista anualmente. Entre os que não procuram o atendimento anual, 9% alegam problemas financeiros. Além disso, metade dos brasileiros com 16 anos ou mais tem dificuldade para enxergar.

“Os pacientes precisam ter consciência que existem doenças que podem cegar. E promover essa informação é crucial”, diz Mirko Babic. “O SUS promove completo tratamento e diagnóstico de várias doenças oculares”, acrescenta.

O professor Jacob Cohen destaca a resistência de oftalmologistas para trabalhar no interior do país, em especial cidades mais distantes de grandes centros urbanos. Para os especialistas, é necessário que o governo implemente programas para encurtar essas lacunas.

“No Poder Judiciário existe a política de que o concursado, ao entrar na carreira, deve ir a locais mais distantes e, apenas depois de anos, muda-se para regiões mais próximas das capitais. Isso também poderia ser implementado na área da oftalmologia”, defende Cohen.

Ele também reivindica que universidades obriguem os formandos a fazerem residência médica no interior. Segundo censo de 2021 do CBO, o Brasil tem 19,5 mil oftalmologistas.

Na média geral, o país tem um oftalmologista para cerca de 11 mil habitantes. Para países desenvolvidos, a OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza a relação de um médico para 17 mil pessoas. No Norte, porém, a média registrada pelo CBO é de um para 19.512 -única região brasileira com dados inferiores ao recomendado pela OMS. No âmbito estadual, apenas Amapá e Maranhão têm números não condizentes com os estipulados pela organização.

Os dados podem se diferenciar com base na metodologia do cálculo. Nesse caso, por exemplo, o conselho considera que um oftalmologista pode atuar em dois estados do país. Quando a regra é desconsiderada, Acre e Pará também apresentam números inferiores ao sugerido pela OMS.

O censo destaca ainda que a oftalmologia está presente em 30% dos municípios brasileiros -as cidades acolhidas agregam quase 80% da população do país.

Enquanto o mercado nacional não consegue atrair oftalmologistas para áreas mais remotas do país, especialistas defendem a necessidade de ampliar a telemedicina do setor. “Existe um canhão de tecnologia que está chegando para transformar a relação entre doutor e paciente na oftalmologia. Há ainda a inteligência artificial para apoiar na triagem do paciente, que é onde o SUS falha”, afirma Ralf Toenjes.

Segundo ele, cerca de 10% das pessoas que estão na fila do SUS para atendimento não precisam estar lá. A razão para isso, aponta, seria a falha no encaminhamento dos pacientes. “Tem vez que alguém com problema urgente na retina está na mesma fila de uma pessoa que precisa de óculos”, explica. O fato também foi ressaltado por outros especialistas durante o debate.

Na mesma linha, o CFM regulamentou em abril a telemedicina no Brasil. O texto estabelece as regras para o atendimento a distância, disciplinando as diversas modalidades e definindo que esse tipo de atuação é auxiliar.

Cristiano Caixeta Umbelino defende ainda a necessidade de individualizar o atendimento com base nas características das regiões. “Não é sobre colocar um oftalmologista em cada um dos municípios brasileiros, mas é importante estruturar a condição para que o médico seja acessível”.

Fonte: Folhapress (Pedro Lovisi)

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