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24 de abril de 2024
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Baú

Os acordes de viola embalam as tradições picoenses

fato acervo pessoal da dupla Jairo Silva e Jeferson Silva

Maria Nilza

A macrorregião de Picos é berço do Repente piauiense e coleciona grandes nomes da poesia nordestina.

Os poetas João Batista, Raulino Silva, Graça Moura, Zé Viola e Zé Tiago. foto : Maria Nilza
Os poetas João Batista, Zé Viola , Raulino Silva e Graça Moura. foto : Maria Nilza

A Literatura de Cordel desembarcou no Brasil junto com os portugueses,  perambulou por alguns rincões e encontrou repouso no Nordeste, onde se tornou uma das manifestações mais tradicionais da cultura local. Daí vieram diversas vertentes entre elas a poesia repentista, cantar versos de improviso ao som de uma viola. Em alguns estados esta cultura teve um maior florescimento e o  Piauí está entre eles, e se tornou um celeiro de poetas repentistas principalmente a macrorregião de Picos.

 

 

 Os representantes do Repente na Macrorregião

 

Francisco do Reis foi um dos mais conhecidos, na macrorregião e por vários estados brasileiros,  cantando repente acompanhado de sua viola. Entretanto poucos o conhece por seu nome da batismo, mas quando pronuncia Barrazul os amantes da viola lembram do grande poeta da Rádio Difusora.

Barrazul no Programa Tarde Sertaneja
Barrazul no Programa Tarde Sertaneja

Seguindo os passos deste trovador e outros precursores do Repente em Picos, Hipólito Moura, aos 17 anos foi parceiro do poeta na rádio, em 1989. Depois de alguns ano, este travador se mudou para a cidade de Caruaru onde consolidou sua carreira de Repentista e tem representado o Piauí em festivais por todo o país. Como Hipólito Moura segue uma lista extensa de pessoas simples anônimas,  mas com grande talento e sensibilidade para cantar as inquietações do sertanejo: Vitorino Bezerra, de Belém do Piauí, Zé Reis de Jaicós, Antônio Veloso de São João da Canabrava, Expedito Mourinha de Itainópolis, Tanton Brito de Monsenhor Hipólito e João Moura Leal ( professor, poeta escritor com três livros publicados) de Vila Nova do Piauí, Zé Souza de Monsenhor Hipólito, Netinho Macedo de Padre Marcos.

Um nome de destaque, bastante conhecido no Brasil, é José de Moura o Zé Viola, natural de Bocaina, tem residência em Teresina, mas é onde menos o encontra. Está sempre com  agenda cheia se apresentando pelos cantos do Brasil.

 

Festivais e cantorias

 

O trabalho de preservação da arte do improviso é feito de maneira bem simples como as formigas. Eles próprios preparam seus eventos, gravam e comercializam seus discos e marcam suas cantorias. No município de Monsenhor Hipólito o poeta Adalberto Carvalho  junto com seu irmão, Chagas Carvalho, também cantador, músico e arranjador, realizam anualmente há 22 anos, um festival onde reúnem muitos repentistas da macrorregião e alguns convidados de outros estados.  No último evento, realizado dia 20 de setembro, se apresentaram 14 cantadores, sendo dois nomes de destaque do Ceará e dois da Paraíba.

Os convidados ajudam a atrair o público e também é uma estratégia utilizada por estes artistas em forma de intercambio. Cada convidado fica na responsabilidade de levar o anfitrião para se apresentar em seus eventos em seus respectivos estados.  Este Festival também teve a participação de uma dupla bem jovem Jairo Silva, 20 anos e Jeferson Silva, 18 anos. Os dois são piauienses que viveram muito tempo em Monsenhor Hipólito e recentemente se mudaram para Iguatu no Ceará.

A dupla Jairo e Jeferson Silva. foto :acervo pessoal
A dupla Jairo e Jeferson Silva. foto :acervo pessoal

Outro evento de viola e poesia acontece em Picos desde 2012 é o festival organizado pela psicóloga e promotora de eventos, Graça Moura. Ela é uma apologista da cultura repentista e em parceria de Hipólito Moura realiza anualmente um grande encontro de poetas repentistas na cidade de Picos.  Para o festival, que acontece no Espaço Ciranda  de Cultura e Lazer, vem muitos artista do estado do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.

 

A viola no rádio

 

Segundo o poeta Genivaldo Sousa, 36 anos, natural de Jaicós, a cultura repentista não encontra espaço na mídia, por isso é necessário buscar uma oportunidade para divulgar o trabalho nas rádios. Ele que tem um programa diário pela Rádio Canta Galo diz: “Acredito que a única maneira de não deixar morrer esta cultura é seguir com os programas de rádio, já que não encontramos apoio dos órgãos públicos”. Assim como o compositor jaicoense, os irmãos Zé da Luz e Chico da Luz mantém, pela Rádio Difusora de Picos, às 13:00 horas, um programa diário onde cantam, divulgam suas agendas e marcam cantorias.  Também pela Difusora, diariamente, vão ao ar os programas de  Antônio Neto , de Inhumas e Antônio  Ricardo da localidade Valparaíso, às 13:30. Às 17:00 horas, desde 18/01/1980 o Programa Tarde Sertaneja, do veterano Barrazul, que hoje é evangélico, mas continua fazendo seus versos ao som da viola em louvor a Jesus Cristo. Aos sábados às 13:00 horas Valdenor Sousa é quem toca a viola na Difusora de Picos.

Os poetas Genivaldo Sousa e Zé da Luz. foto: Maria Nilza
Os poetas Genivaldo Sousa e Zé da Luz. foto: Maria Nilza

Zé Tiago e João Batista fazem programa semanal través da Cultura FM às sextas-ferias,  a partir das 17 horas.  Foi entre acordes de viola que Zé Tiago contou ao Baú como iniciou sua criação poética. “ a gente se descobre poeta ouvindo outros poetas, quando sentimos o mesmo verme roendo dentro de nós, quando sentimos a mesma dor do outro”.

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