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16 de abril de 2024
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Padre de São Francisco de Assis relata em sermão sofrimentos e problemas enfrentados por fiéis

O Padre Henrique Geraldo Martinho Gereon, que reside e trabalha na cidade de São Francisco de Assis do Piauí, proferiu sermão na celebração da sexta-feira da paixão, onde o religioso relatou sofrimentos e problemas enfrentados no dia a dia dos fiéis daquela paróquia.

“Esse sermão quer ser um chamamento, um despertar dos nossos irmãos e irmãs para o verdadeiro sentido do sofrimento de Jesus na cruz. É necessário que cada um de nós perceba e identifique onde Jesus está sofrendo hoje. Jesus está entre nós”.

Veja na íntegra o sermão proferido pelo Padre Geraldo Gereon.

 PREGAÇÃO NA CELEBRAÇÃO DA SEXTA FEIRA DA PAIXÃO

NA MATRIZ DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS DO PIAUÍ-PI

 Caros irmãos e irmãs, caros radio-ouvintes:

                         Acabamos de acompanhar Jesus no seu caminho para a morte na cruz, pela narração do evangelista São João. Compadecemo-nos desse inocente que quis revelar ao seu povo o coração misericordioso do seu Pai. Admiramos Jesus na sua fidelidade até o fim. Agradecemos a Jesus este sacrifício por nós que nos salvou.

            Mas não podemos esquecer que Jesus pediu: “Quem quiser ser meu discípulo, tome a sua cruz e me siga”. Aqui Jesus fala da minha cruz, da cruz dos outros, da cruz que as pessoas são obrigadas a carregar, em todo lugar, todos os dias. Essa cruz que são as preocupações, os problemas, as crises, as perdas dolorosas, o medo do futuro.

            Vamos dar uma volta pela nossa cidade e descobrir tantas cruzes que pesam na vida dos que são nossos irmãos e irmãs, e descobrir as pessoas que hoje estão carregando a sua cruz:

            Vamos parar na casinha onde mora uma senhora idosa sozinha. O marido a abandonou faz muitos anos. Os filhos estão em São Paulo e Mato Grosso, raramente dão notícias. As pernas não aguentam mais nem pequenos caminhos. A televisão queimou na oscilação da energia quando chovia, não tem como consertar ou comprar uma nova.

Nesta casa a Sexta Feira da Paixão continua todos os dias.

            Vamos agora parar na Casa Lotérica, fechada há dias. Idosos e doentes não conseguem tirar a sua aposentadoria. Nenhum dos outros pontos atende, pois nunca tem dinheiro. As pessoas fazem longas e caras viagens para outras cidades, em busca de atendimento. Quando atendidas, depois do público local, fazem as suas compras no comércio daquela cidade. Em São Francisco não corre mais dinheiro – os comerciantes passam por grandes apertos.

A Sexta Feira da Paixão continua todos os dias.

            Vamos parar agora na Delegacia da Polícia. Nela está preso o jovem que foi para São Paulo – lá roubou e matou. Agora vai ser condenado a longos anos de cadeia. A família não tem recursos nem para um advogado nem para visitar o jovem, preso numa penitenciária longe daqui.

A Sexta Feira Santa continua todos os dias.

            Seguindo o nosso caminho vamos parar na porta da escola. Durante alguns dias teve boas chuvas. Quando chove as estradas não permitem o transporte escolar rodar. Os alunos perdem numerosos dias de aula. Os lugares de atoleiro todos os anos são os mesmos e nunca são consertados. Quando terminam os oito anos de ensino fundamental, os estudantes perderam tantos dias letivos dos 200 anuais obrigatórios, que a matemática revela: na verdade, só estudaram seis anos.

A Sexta Feira Santa continua todos os dias.

            Vamos caminhar agora até a construção de um prédio público, parada há cinco anos. No escuro total desta ruina toda noite se reúnem os viciados para consumir drogas. As suas famílias estão desesperadas, não conseguem tirar os seus filhos do caminho da sua destruição.

A cruz da Sexta Feira Santa continua todos os dias.

            No caminho pela nossa cidade vamos agora parar na frente de um dos numerosos bares: é impossível contar quantos tem nesta pequena cidade. Neles se vende álcool para qualquer um que pague, criando dependência em crianças e jovens. Grande número destes bares, em torno de 15, também mantém bancas de jogo de azar, conhecidas e toleradas pelas autoridades, onde muitos pais de família perdem o dinheiro da feira semanal, deixando as suas famílias sem o mínimo necessário. Aqui está a outra razão da falta de dinheiro nesta cidade, além da falta de pagamento dos benefícios.

A cruz da Sexta Feira da Paixão acontece entre nós.

            Nós não somos repórteres que apenas relatam o que viram. Nós somos irmãos e companheiros que andam juntos, aguentam juntos, porque a cruz que carregamos juntos com Jesus termina na Páscoa. Amém.

Pe. Geraldo Gereon

 

Fonte: Blog do JB

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