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16 de abril de 2024
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Quem matou o jornalista Elson Feitosa? Será mais um caso impune no Piauí?

O maior mistério deste mês no Piauí envolve a autoria do assassinato do jornalista e empresário Elson Feitosa Silva, 38 anos. Ele sumiu na última sexta-feira (02 de outubro). Seu corpo foi encontrado na tarde de sábado (03) na localidade Aprazível, zona rural de José de Freitas. Estava carbonizado e irreconhecível. É tanto que os familiares e amigos só deram conta de que aquele cadáver trucidado era de Elson após o mesmo ser recolhido como indigente e ficar à espera de identificação no Instituto Médico Legal. Era o último lugar que o círculo de amizades foi procurar após seu desaparecimento.

Muita gente quer entender porque uma pessoa pacata, trabalhadora e que não fazia mal a ninguém foi sequestrado, amordaçado, levado para um local bem distante de onde sumiu, foi morto e teve o corpo incendiado. Por que tamanha crueldade? Mas a pergunta principal é: quem matou o jornalista e será mais um caso impune em nosso estado?

Por enquanto essas perguntas estão sem respostas. Apesar das investigações da Polícia Civil do Piauí estarem em curso, pouco se avançou. E sem a cobrança popular tenderá a cair no esquecimento e estar mais próximo da impunidade, combustível perfeito para que criminosos sintam-se no direito de tirar a vida de alguém, empregando, inclusive, métodos que nos envergonham de fazermos parte da raça humana.

JORNALISMO: UM SONHO

Conheço Elson desde criança. Estudamos no mesmo colégio, em Picos, Sertão do Piauí. Ele era uma série a minha frente. Frequentávamos a mesma igreja (de Nossa Senhora dos Remédios, em Picos). Temos vários amigos em comum e centenas de conhecidos. Lembro da mãe dele, a professora de Português Socorro Feitosa.

Sonho de ser jornalista. Foto: Facebook

Recordo quando fizemos o vestibular para Jornalismo na UFPI – Universidade Federal do Piauí. Era o final de 1996 e o encontrei no local de prova. Ele falava do sonho em ser profissional de imprensa. Dias depois do resultado, lamentávamos por não termos sido aprovados.

Ele reafirmava que não iria desistir do sonho. Eu, naquela época, ainda não sabia o que queria. Só me apaixonei pela área meses depois.

Passados alguns dias nos encontramos, em uma viagem entre Teresina e Picos. Papeamos o trajeto quase todo. Até hoje aquela conversa me marca. Pois especulávamos quem teria sido o “azarado” que tirara a 41ª colocação no vestibular (eram 40 vagas). Ou seja: o primeiro a não ser aprovado. Ele lembrava que tinha tirado uma colocação depois de centésimo. Semanas depois, quando saiu a segunda chamada do vestibular descobri quem era o 41º: esse que vos escreve. Tinha sido chamado para fazer o curso que mudaria minha vida.

Sempre conto essa história em todas as turmas que ministro aulas de Jornalismo. E até hoje um colega de profissão, e que estudou comigo, acha que sou burro por ter sido aprovado em segunda chamada. Tenta me desqualificar por causa disso. Devo ser!

Mas hoje lembro com tristeza dessa história e ter encontrado, tempos depois, Elson Feitosa fazendo o curso. Dizendo: “consegui, Orlando, viu como também serei jornalista”.

Fazia muito tempo que não o via, que não tinha notícias suas. Só soube, na última sexta do seu desaparecimento. Maior susto e impacto tomei na manhã do domingo, ao saber que o cadáver encontrado com sinais de tortura e trucidamento, era de Elson.

JUSTIÇA!

Não se contiveram apenas de sequestra-lo enquanto trabalhava. O levaram para outra cidade (José de Freitas, na região metropolitana de Teresina, 50 quilômetros de distância da capital).

Na última vez que foi visto com vida estava trabalhando. Seu Facebook mostra o quanto estava orgulhoso e feliz com seu empreendimento. Gostava de postar fotos de sua felicidade, de seus momentos de simplicidade. Hoje não pode mais.

Usamos as redes sociais para cobrar: apuração, prisão e punição exemplares.

Postagem nas redes sociais. Foto: Facebook

Que Elson Feitosa não vire estatística. Muito menos estatística dos tantos crimes bárbaros sem solução no Piauí. Que quem fez isso possa pagar com muitos anos de cadeia, para afagar o sofrimento vivido por toda a família e grande gama de amigos de Elson Feitosa.

Não foi embora só um jornalista, um empresário, um prestador de serviços, um filho. Foi morto um cidadão, alguém que pagava impostos, que tentava ajudar no desenvolvimento do estado, um irmão, um amigo, alguém que poderia ser nosso parente ou amigo. Ou até nós mesmos! Pense nisso ao tentar entender que esse e outros tantos casos não podem ficar impunes.

Que Elson Feitosa não tenha morrido em vão e possa descansar em paz!

 

Por Orlando Berti / O Olho

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