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20 de abril de 2024
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Trânsito de Teresina. Muita falta de: educação, fiscalização, amor e respeito ao próximo

A capital do Piauí tem alto crescimento do número de carros e motos circulando no dia a dia. Teresina é um centro regional que converge diariamente centenas de milhares de pessoas. Elas são oriundas de todas as partes do município, da região metropolitana, de um entorno de quase cem cidades (piauienses e maranhenses) e também de todo o país. A esperança de realizar melhores tratamentos médicos, fechar negócios, visitar parentes ou passear move muitas dessas pessoas. Quase todo esse mundaral de gente desloca-se em vários pontos e movimenta a cidade.

Teresina é uma babel de culturas, pessoas, intenções e educações. Também é um inferno quando o assunto é trânsito. A infernalidade não consiste somente nos engarrafamentos diários, mas também no desrespeito a quem transita pelas vias da cidade. Em quase cada quarteirão nas regiões teresinenses mais movimentadas se vê desrespeitos: ao trânsito, à educação e até a civilidade.

Disputa entre carros, motos e pedestres transforma o trânsito de Teresina em quase insanidade

A capital do Piauí tem motoristas sem educação? Quem dirige ou pilota na cidade é ogro, brucutú? O que acontece com nossa população no trânsito? Por que parece que pedestres e motoristas são inimigos mortais? Por que o lugar é cada vez mais motorizado e muito menos as pessoas parecem que perdem modos e valores coletivos?

Foram essas perguntas que motivaram a reportagem de O Olho passar quase todo o mês de janeiro monitorando uma parte do trânsito teresinense. Foi escolhida a região mais complicada, a área central, compreendida entre os rios Poti e Parnaíba (de Leste a Oeste) e entre as avenidas Miguel Rosa e José dos Santos e Silva (de Norte a Sul). O que foi visto nesse quase quadrilátero é de deixar de queixo caído. Nos faz ter a certeza que o trânsito de Teresina é cada vez mais incivilizado e que tudo parece uma guerra, alimentada pelo desrespeito e quase constância de burlar a Lei.

Vídeo mostrando como está o trânsito na região central de Teresina. Muita falta de educação e respeito ao pedestre (CLIQUE AQUI E VEJA): 

POR QUE HÁ TANTA FALTA DE EDUCAÇÃO NO TRÂNSITO DE TERESINA?

Essa é uma pergunta que a reportagem fez. Sobrou para nossa mãe. Ela foi chamada de p…umas 30 vezes por motoristas incomodados com um simples questionamento. Houve uma, ao lado do hospital Prontomed (ruas Paissandú com Area Leão), que partiu para cima. Ela foi flagrada estacionando em cima de uma faixa de pedestre. O lugar tem muito trânsito de pessoas com dificuldade de locomoção. Não só fez questão de xingar como estacionou mais ainda em cima da faixa. Parecia birra de criança. Mas ali estava uma motorista que passou meses sendo educada em uma auto-escola para conviver no trânsito. Parece que foi na Auto-escola de Formação de Ogros, e não de motoristas.

Outros mandaram a reportagem tomar em um local impublicável. Mas esse local lembra porcarias. Porcarias rememoram o que uma parte dos motoristas têm feito no trânsito da capital piauiense. E aí a reportagem começou a entender porque há tantos “donos do trânsito”.

Vídeo mostrando como agem os “donos do trânsito” (CLIQUE AQUI E VEJA): 

Poucas andanças pelas ruas centrais da cidade colocam qualquer cidadão a par das ogrices. Em praticamente todos os dias úteis há engarrafamento. Não é novidade. Isso ocorre por uma série de motivos, além da quase “corrida maluca” entre carros, motos, ônibus, caminhões, ciclistas, pedestres, condutores de carroças e entre a paciência de todos.

Na avenida Frei Serafim, a mais movimentada da região central de Teresina, as poucas calçadas que resistiram à presença de ambulantes são ocupadas por veículos. Entre o quadrilátero que envolve a avenida e as ruas Arlindo Nogueira e Area Leão, principalmente em frente a farmácia Big Ben e ao curso Gilberto Campelo, os pedestres têm de transitar pelo meio da via. O problema é que esse lugar da Frei Serafim é um corredor de ônibus. A cada minuto passam vários coletivos, a maioria bem apressados. A calçada também está toda esburacada. E haja riscos às vidas dos pedestres.

Vídeo mostrando os “donos das calçadas” da av. Frei Serafim (CLIQUE AQUI E VEJA): 

O corredor de ônibus é desrespeitado, apesar de várias placas alertarem para multas.

Ou não está se multando ou virou cultura desrespeitar os corredores. No horário de pico (no início das manhãs e finais das tardes) parece que estão distribuindo notas de R$ 100 para quem mais desrespeitar o trânsito. Só pode! É nítido que 30% dos motoristas fazem isso.

A falta de educação com a de punição torna a fórmula perfeita para a continuação da “corrida maluca” no trânsito teresinense.

Pedestres têm de passar pelo meio de rua movimentada no Centro de Teresina

Também na rua Coelho de Resende, em outro corredor de ônibus, é comum veículos pararem no meio da rua. Aí o já tumultuado trânsito fica ainda pior. E se antes era complicado transitar pelas calçadas complica até os pedestres de transitarem pelo meio da rua (desviando-se de quem impede o trânsito nas calçadas). Essa via é frequentada por muitos passantes, principalmente composto de trabalhadores e pessoas que vêm à procura de tratamento de saúde.

São cadeirantes, pessoas com dificuldade de locomoção e cidadãos podados pelo direito de ir e vir porque “os donos das ruas” colocam os carros nos locais destinados ao trânsito de pessoas. Um dos flagrantes foi feito em frente à panificadora Modelo, em que um homem de um Polo vermelho parou o carro no corredor de ônibus para poder comprar pão. Uma das três vias mais movimentadas do Centro teresinense quase parou porque alguém foi comprar cacetinho (como também é conhecido o pão francês).

Vídeo do tratamento dado às vagas especiais em Teresina (CLIQUE AQUI E VEJA): 

Outro desrespeito grave também foi flagrado em frente à clínica Lucídio Portella na rua São Pedro. Lá estava cheio de carrões, aqueles veículos potentes que custam o olho da cara. Parece que os donos acham que compram o mundo. Com um detalhe: o estacionamento da clínica e de duas instituições estavam lotados.

Sem quererem pagar um estacionamento privado que fica pouco mais de 50 metros à frente, os motoristas deixam os veículos em plena calçada, sem contar com os que já ficam estacionados do outro lado da rua. Quem quer transitar a pé ou de bicicleta tem de rezar, e muito. E haja pedidos ao Papai do Céu.

Nem as vagas de deficientes físicos ou idosos, além dos pontos de desembarque e embarque para pessoas com dificuldades de locomoção são respeitados. Parece que há um “chama”, um aviso dizendo: “vai, estaciona no lugar de deficiente”.

Vídeo dos “carrões” e os “donos das calçadas” na capital do PI (CLIQUE AQUI E VEJA): 

Todos os lugares constatados pela reportagem destinados à vagas especiais estavam ocupados. E não havia nenhum cartão ou adesivo que demonstrasse que quem estava naqueles veículos era merecedor de vaga. Novamente sobrou para a mãe do repórter em um caso de uma pessoa que estacionou na vaga de deficiente em frente ao restaurante Giraffas (no cruzamento das ruas São Pedro e 1º de Maio).

Pessoas com jalecos nas mãos pareciam utilizar o espaço. E, pareciam mais ainda, esboçar super-saúde e nenhum adesivo para vagas especiais. Parecia que estavam como fome para poder comer. Mas a mesma pressa não existia para respeitar as vagas. Em frente há um estacionamento, privado. Fica quase sempre com metade das vagas ociosas. O afã de economizar alguns centavos os motoristas sem educação prejudicam as centenas de pessoas que passam ao redor porque estacionam nas vagas de deficiente e também no meio das calçadas. Mais ogrice.

Muitas calçadas terminam não servindo para os pedestres na região central da capital do Piauí

Estaciona-se por cima de faixas de pedestre, em esquinas, sempre prejudicando quem vai ou vêm. Em várias ruas colisões são constantes por conta dessa falta de visibilidade. Pixações no asfalto, para perícias de trânsito, denunciam esses lugares.

A SOCIEDADE DO PISCA-ALERTA E DO JEITINHO

Enquanto uma parte dos motoristas que transita por Teresina não sabe direito para que serve uma seta de veículo (quem é responsável sabe o que ocorre) o pisca-alerta é uma tática muito usada na capital. Só que de maneira irresponsável.

Vídeo com mais desrespeitos aos pedestres de Teresina (CLIQUE AQUI E VEJA): 

A rua Rui Barbosa, entre as praças da Bandeira e Saraiva (325 metros de distância em quatro quarteirões), poderia ser facilmente apelidada de Rua do Pisca-Alerta ou então Via do Estacionamento Irregular. Parece que virou moda no lugar, apesar das placas mais que visíveis e afixadas em quase todos os postes, deixar o veículo em pisca alerta e resolver quase de tudo. Só não se resolve ali respeitar as leis de trânsito. Essa via fica a menos de dois quilômetros e meio da sede da Strans.

O pisca-alerta é usado em praticamente todos os lugares. Já é fato consolidado nas leis brasileiras que o pisca alerta não dá o direito do condutor estacionar no local que bem desejar. Mas vá dizer isso aos motoristas que transitavam pela região central da capital.

Pisca-alerta ligado: uma cultura cada vez mais comum em Teresina. Abuso e falta de fiscalização

O Código de Trânsito Brasileiro só prevê, em seu artigo 40, duas situações em que o pisca-alerta pode ser usado: em imobilizações (toda vez que o carro parar por defeito ou quando morrer na rua) ou em situações de emergência (acidentes, carro morreu). Ou parece que poucos esqueceram desse detalhe, visto ao tirarem as carteiras de habilitação, ou virou moda.

E a cara de pau continua. O pisca-alerta cada vez é mais usado e essa prática parece não ter fim.

E A STRANS?

Teresina tem um órgão específico para cuidar dessa área. É a Strans – Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito. Entre suas várias funções, uma é proporcionar o bem de quem circula pela cidade, seja em um veículo, uma bicicleta, a pé ou até de animal. Ela diz que educa e fiscaliza e está preparada para tomar providências sobre os casos.

Pisca Alerta, praticamente o novo nome da rua Rui Barbosa: menos de 350 metros de puro desrespeito às leis de trânsito

Nota-se que tudo o que foi relatado, dentre outra série de irregularidades no trânsito de Teresina, são de conhecimento da Superintendência. Ela, inclusive, tem um número gratuito para receber denúncias: 0800 086 3122 e atende também pelo: (86) 3122 7612.

A Strans promete tomar providências urgentes. Disse que também vai fiscalizar mais e que há equipes diárias monitorando o trânsito da capital.

Vídeo sobre o constante desrespeito aos pedestres no trânsito teresinense (CLIQUE AQUI E VEJA): 

O prefeito de Teresina, Firmino Filho (PSDB) também foi informado das denúncias e prometeu maior empenho da Superintendência.

A reportagem de O Olho até encontrou durante os quase 30 dias circulando na região central de Teresina três equipes da Strans. Uma vez, na rua Olavo Bilac, havia um veículo da Superintendência. Estava em pisca-alerta, nas não foi possível constatar atuação de fiscalização. Outra vez na praça da Bandeira havia um motoqueiro. Alguns segundos depois ele saiu, por sinal passou pela rua Rui Barbosa (aquela chamada de Rua do Pisca Alerta). Os carros continuaram lá, estacionados em local proibido.

Outra vez encontrou dois motoqueiros que estavam multando os motoristas estacionando irregularmente na rua 13 de Maio. Foram quase dez multas em três minutos. Só não houve mais porque os flanelinhas que estavam na área correram para avisar os donos para retirar. “Os homi tão na área”, dizia um correndo em direção a um prédio comercial.

Vídeo de guarda da Strans fiscalizando trânsito de Teresina (CLIQUE AQUI E VEJA): 

Nota-se que há realmente um trabalho de fiscalização mas que o número de agentes é insuficiente para fazer o básico, que é orientar e até multar quem teima de tornar o trânsito de Teresina cada vez pior.

Durante esse tempo também não foi visto nenhuma informação, folheto ou alguém falando nas ruas de Teresina sobre alguma campanha de conscientização e civilidade no trânsito teresinense.

Mas, enquanto isso, nos dê licença e pense no próximo. Lembre-se que todos temos direitos e que a civilidade deve ser uma tônica em todos os lugares. Liga o alerta, não o pisca-alerta, para a educação no trânsito.

* Jornalista e professor universitário. Atua em O Olho via Projeto de Pesquisa de Etnografia das Redações tentando entender o modo de fazer jornalismo no Piauí.

 

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