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26 de abril de 2024
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Violência nas escolas do Piauí deixa em alerta especialistas e professores

Na manhã do dia 13, dois jovens entraram armados na escola estadual Raul Brasil, em Suzano, região metropolitana de São Paulo. Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, efetuaram disparos matando cinco alunos e dois funcionários da instituição e ferindo mais 11 pessoas. 

Os dois são ex-alunos da escola. No final da ação, o adolescente matou o homem de 25 anos e em seguida cometeu suicídio. O assassinato em série chamou a atenção da sociedade para temas como violência na escola, flexibilização da posse de armas e  exposição de crianças e jovens a contextos que banalizam a violência. 

Para o professor de História e Direito, Alessander Mendes, a sociedade tem focado na discussão das conseqüências deixando de lado a preocupação com as causas que desencadeiam crimes como este. Segundo ele, a principal causa seria a relação que os jovens, professores e todo o corpo escolar travam dentro dos muros escolares. 

Uma das linhas de investigação do caso em Suzano é que o adolescente sofria Bullying  na escola. Ele teria abandonado a instituição devido à violência sofrida. Para Alessander, a escola não pode mais fechar os olhos para as relações desestruturadas dentro de suas dependências. 

Segundo ele, os casos de violência em escolas de todo o mundo mostram que antes do crime, os jovens apresentam sinais visíveis a pais e aos professores. 

“A discussão que estamos travando no caso desses estudantes é uma discussão pueril. A questão política terminou tentando tomar à frente de um fato grave. Se o problema é a liberação do porte de armas ou não. A discussão sobre armas é uma conseqüência, não a causa. Eu vejo muitas pessoas discutindo, e respeito todas as opiniões, que instrumentos de videogames são perigosos porque motivam a violência. Isso é conseqüência e não causa. A causa está relacionada com o relacionamento que existe na sala de aula. É preciso haver  relacionamento de respeito, de empatia de um poder entender o outro do jeito que ele é. É preciso respeitar as condições religiosas de cada um, a posição política. Essa relação apresenta sinais sejam eles comportamentais, de isolamento ou mesmo mensagens agressivas nas redes sociais. Até o momento que eles chegam à fase da execução”, disse.

O professor afirma que uma série de fatores, como relações desestruturadas nas famílias e nas escolas, levariam a episódios como o de Suzano.

“A causa é esse relacionamento em sala de aula. Essa pessoa já tem deficiências nas relações familiares. Dentro da escola os amigos podem ser o termômetro para essa relação. O professor, a equipe pedagógica e todos podem ser termômetros. O menor de 17 anos sofria alguns tipos de exclusão, de menosprezo, práticas de humilhação e estava fora da escola. Nessa relação ele cria sentimentos de ódio e vingança. E depois dessa causa, ele pode buscar em locais como o videogame para saber como fazer. Primeiro tem uma causa depois a conseqüência. Se eu me prendo a games e armas vou sempre discutir a conseqüência. Sempre discutir pessoas mortas e não as causas”, destacou.

Segundo ele, uma solução seria capacitar professores e gestores das escolas para que fossem capazes de identificar alunos que estejam precisando de ajuda. Ao serem identificados, esses estudantes seriam encaminhados para os profissionais adequados para realizarem o tratamento psicológico. 

“É preciso que os professores sejam agentes na identificação dessas necessidades dos alunos. Pode se fazer treinamentos para que esse professor seja formado para construir essa relação com os alunos.  Isso é prevenção. Acho que as escolas ignoravam os sinais até o caso de Suzano. Depois disso, todos os educadores terão um olhar para essa situação. Os professores precisam ser treinados para perceber essas questões comportamentais. Percebendo isso, ele será a ponte entre esse aluno que precisa de ajuda e os profissionais que podem tratar esse aluno. Isso pode ser feito em qualquer escola sem grandes investimentos”, disse.

Violência nas escolas do Piauí

Nos últimos nove meses foram registradas 203 ocorrências em Teresina, entre brigas, ameaças e alunos que foram à escola armados. Os  dados são da Companhia Independente de Policiamento Escolar (Cipe). Os números chamam a atenção e levaram o Ministério Público do Piauí a desenvolver o projeto “Queremos Paz”. 

Por meio do projeto, são realizadas atividades com o objetivo de fomentar a cultura da paz, a prática do diálogo e da tolerância nas escolas. A proposta inclui também atividades de capacitação de professores e de familiares. Nas capacitações, são discutidas situações de bullying, drogadição e indisciplina. 

A promotora de justiça, Flávia Gomes, afirma que o importante é trabalhar a prevenção da violência nas escolas. “Em meio a inúmeras solicitações na área de Educação, a maior questão era a dos conflitos dentro da escola. Aí entram bullying, drogadição, o conflito família-escola, aluno-aluno, aluno-professor e vimos que precisávamos trabalhar a prevenção”, disse. 


Eduardo Moita afirma que país não possui política de saúde mental (Foto:Arquivopessoal\facebookeduardomoita)

“Sociedade banalizou a vida”


O psicólogo Eduardo Moita afirma que estudos realizados em crimes cometidos em todo o mundo, semelhante ao da escola de Suzano, mostram que antes dos atentados, é possível  perceber sinais de mudanças na personalidade dos assassinos. Eduardo afirma que falta uma política de saúde mental no país para que as crianças possam ter um acompanhamento psicológico nas escolas. 

Ele diz que não existe uma política de prevenção. 

“Nesses casos de violência e assassinato em massa, como ocorrem nos Estados Unidos, é preciso primeiro analisar que essas pessoas que cometem esses crimes sinalizam.  Acontece que a nível geral, principalmente no Brasil,  a prevenção é pouca. Se você parar para analisar esse adolescente de 17 anos, ele fez várias postagens que se observava o cunho violento e falas de um possível crime. Hoje as redes sociais representam os sentimentos das pessoas. Quando se está muito feliz se posta, quando se viaja, quando se está triste, luto, data comemorativa, as postagens acontecem, mas muitas vezes,  isso passa despercebido porque vivemos em uma sociedade muito acelerada”, afirma.

Segundo ele, os crimes na maioria das vezes estão ligados a casos de bullying que passam ignorados pelas escolas e famílias.

“As pessoas que cometem esses crimes passaram por situações de bullying. Falta a presença dos psicólogos no sistema educacional, as escolas públicas não têm. Já nas privadas,  praticamente todas possuem esses profissionais nos seus quadros. É preciso ter um sistema de prevenção na educação. As escolas precisam de psicólogos, de profissionais trabalhando com a finalidade de tentar entender certos comportamentos. O bullying, as questões vexatórias existem, mas quando se tem uma equipe trabalhando com isso, o resultado é diferente. A sociedade banalizou a vida. Não existe uma cultura de saúde mental, não existem rodas de conversa sobre emoções. Existem prevenção para um monte de doença, mas para a saúde mental se fecham os olhos. Esses rapazes estavam em uma situação emocional totalmente comprometida”, disse.

Ao contrário do professor Alessander Mendes, o psicólogo Eduardo Moita afirma que identificar os alunos com possíveis distúrbios  não é o papel do professor. Segundo ele, deve-se  existir uma equipe com profissionais capacitados para isso. 

“O professor não é preparado para isso. Quem faz levantamento de característica de personalidade é o psicólogo. É como colocar um psicólogo para ministrar uma aula de um assunto que ele não domina. É muito importante uma equipe de psicólogos porque eles vão orientar os professores sobre as mudanças de comportamento. É pouco provável que alguém cometa um grande crime sem apresentar sinais. As mudanças de comportamento, agressividade, silêncio, fala demais ou de menos, tem sempre algo que muda. A pessoa demonstra. Esses jovens passaram por diversas situações e não conseguiram entender o limite da vingança. Eles poderiam buscar as medidas legais, mas se vingaram da forma que acharam melhor”, disse.  


Governador afirma que o país precisa de uma política de desarmamento (Foto: RobertaAline/CidadeVerde.com)


Liberação de armas


O crime intensificou a discussão sobre a mudança na política de armas no país. No caso da escola de Suzano, os autores do crime  usaram um revólver calibre 38 e carregadores. Eles também possuíam uma machadinha e uma besta, arma de origem medieval que dispara flechas. 

A facilidade com que os jovens tiveram acesso às armas acirrou a discussão. No Fórum dos Governadores do Nordeste realizado na última quinta-feira (14), em São Luís, Maranhão, o atentado serviu de tema para a discussão sobre a política de armamento no país.

De acordo com o governador Wellington Dias (PT), os governadores da região se colocaram a favor de uma política de desarmamento. 

“Tiramos uma posição a partir desse episódio de Suzano de defender a lei do desarmamento. O estatuto do desarmamento é um instrumento adequado. Defendemos é que se tenha um fundo nacional de segurança e o plano nacional de segurança onde possamos proteger as fronteiras do Brasil. Esses jovens tiveram acesso a uma arma. No caso da prisão de uma pessoa acusada do assassinato de Marielle Franco chamou atenção a  quantidade enorme de armas de alto calibre em um apartamento. De onde vem essas armas? Armas que são utilizadas pela Marinha. As nossas fronteiras estão deixando entrar facilmente”, disse o governador do Piauí.

Wellington afirma que o aumento da livre circulação de armas poderá resultar em mais crimes. “Com mais armas teremos mais crimes. Isso é muito patente. É uma posição e fazemos esse alerta ao Brasil”, disse. 

 

Lídia Brito

 

Fonte: CidadeVerde

 

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